Para nossa Alegria


Foi um sucesso repentino. Só abriram os dentes e o mundo já se arrepiou diante deles. Do sofá da sala foram projetados ao Olimpo das celebridades midiáticas. Afinal, mais de 10 milhões de visualizações no YouTube, e em pouquíssimos dias, obrigaram Justin Bieber e a Luiza (que estava no Canadá…) comerem poeira.
De um que falou pro outro, que curtiu no Facebook de outros, que redirecionaram o link para muitos outros, por fim, a maior exibição patética da pior interpretação musical do Universo veio cair diretamente no meu notebook! Fiz o quê? Assisti, enxuguei as lágrimas de tanto rir e, seguindo a procissão dos promotores da futilidade, também encaminhei para meus amigos próximos. Sim, a picada viral também me contagiou!
Mas era pra tanto? Ué, a mãe querendo levar a sério a estrondosa zoeira entre seus dois filhos adolescentes inebriou o mundo todo! Não por admiração, mas pelo completo espanto desnorteante perante a mistura do tosco com o surreal. De lá pra cá, o bordão “para a nossa alegria” jamais será o mesmo. Porque a expressão original de uma idiotice sem tamanho cativou em cheio a plateia terrestre ávida por gargalhar à custa dos outros. Crueldade? Acho que não, pois ninguém obriga alguém a postar algo assim na maior vitrine virtual do planeta.
A verdade é que este mais novo hit youtubiano projetou “um divertido momento em família” à obra prima do humor digna do Troféu Framboesa (o pior da tela num evento de Oscar do avesso). O sorriso estapafúrdico do rapaz acompanhado pela voz horripilante da garota contrastados com a deslocada mãe sem entender nada, tudo contribuiu pra instantânea aprovação – sem critério algum – da audiência virtual interplanetária.
Clicou lá, é risada certa.
Falando em “momento família”, percebe como as coisas que mais chamam a atenção são aquelas que – lá no fundo do fundinho! – ou se parecem com aquilo que somos, ou jamais gostaríamos de ser? Todo mundo já passou vexame em público, ninguém se salvou de uma guerra nuclear à beira da mesa no jantar, muito menos escapou de uma tigela de sucrilhos esparramada pelo chão. Ao mesmo tempo, videocassetadas, pagações de mico e constrangimentos do próximo sempre parecem mais divertidos pra quem assiste de camarote.
Percebemos aqui uma verdade cruel: crescemos e envelhecemos mais por dentro do que por fora. Como assim? Ser alegre – e descontroladamente feliz – é o mal do século? E por que nos divertimos com as aberrações dos outros, mas nos trancando cada vez mais numa vergonha extrema e mal humorada? Curtir a vida é se curtir vivendo a vida. E se podemos refrigerar nosso humor sobrevivendo acima das gafes cômicas, que seja! Afinal, achar graça dos outros não justifica uma vida sem graça.
De repente, ganho uma gentil bofetada bíblica mais pesada que um golpe de luta livre. Sabe o que diz lá? “Alegrai-vos no Senhor, outra vez digo, alegrai-vos!” (Filipenses 4:4). Enquanto meu queixo cai tento me recompor com tamanha ordem de ação. Ser alegre é o imperativo DNA de quem se diz cristão. Não pelas desgraças daqui, mas pela esperança de lá! Uma deliciosa gargalhada, ou mesmo uma nota aguda esgoelada, são expressões genuínas de quem pode até não abrir o presente – mas jamais abrirá mão da festa!
Finalmente, aproveite seus pensamentos pra libertar as endorfinas marginalizadas pela rotina ingrata. Ria dos outros sem deixar de rir de si mesmo. Ache graça do cereal espalhado no chão e tente ver a Graça ainda que alguns sonhos virem cacos no tapete. Valerá sempre a pena apostar na alma que não é pequena. E, acima de tudo, no Pai Eterno que faz o impensável…
… Para nossa alegria!

TEXTO: Odailson Fonseca via: 
http://www.paicoruja.eu
Foto: Pcbaruck via Instangr.am/  

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